sábado, 6 de outubro de 2012

Uma espécie de morte

Naquele dia os gritos de Aurora ecoaram por toda a aldeia: Américo, um dos seus oito filhos, estava a caminho do Brasil. Como mandava a tradição, não havia lugar, nem tempo, para despedidas. Era ir, simplesmente, sem olhar para trás. Por isso emigrar era também, em parte, morrer. Uma morte física que moía aos poucos, que dilacerava por dentro. Aurora gritou a "morte" do filho, tendo provavelmente no pensamento o exemplo de Joaquim, pai daquela que era mulher de seu filho. Também ele emigrado noutros tempos em terras de Vera Cruz, tinha encontrado a morte por atropelamento nas ruas, já bastante movimentadas para a época, do Rio de Janeiro.
O avô Américo não se despediu dos pais, mas fê-lo com a sua mulher e os seus filhos. Abraços apertados e um "Volto breve..." fizeram o (im)possível para atenuar a dor da separação. Haveria de voltar cinco anos mais tarde. Com objetivos cumpridos e certamente muitas histórias para contar.

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