Nome: Américo Soares Teles
Idade: 35
Nacionalidade: Portuguesa
Profissão: Carpinteiro
Estado Civil: Casado
Custo do Bilhete: 5,680$00
O avô Américo guardou o bilhete de ida para o Brasil, o que não surpreende. Aquele papel representava uma odisseia a que poucos se atreviam. Era uma oportunidade de mudar tudo. Para melhor. Um ato de coragem por um homem que nada temia. Quase quarenta anos mais tarde, o seu neto, que assina este blogue, guardaria bilhetes de concertos. Outros tempos, outras realidades.
A partida, a 9 de março de 1951, deu-se no porto de Leixões, rumo, numa primeira escala, a Lisboa. Depois, o vapor North King haveria de passar pela Madeira e por Cabo Verde, antes de navegar rumo à terra que Cabral encontrou em 1500. Contou o avô Américo, mais tarde, que aquele primeiro percurso do Porto a Lisboa fora horrível, que houvera quem quisesse ficar logo na capital portuguesa e voltar para trás, que ele próprio terá ponderado essa opção.
Na verdade, as condições de viagem não deveriam ser as melhores, e a inscrição "Bilhete de passagem de 3ª classe" deixa adivinhar isso mesmo. Que 3ª classe seria esta num navio de longo percurso? Daria "direito" a camarata conjunta e, muito provavelmente, a casa de banho comum. Nessa camarata, um conjunto de homens que não se conheciam de lado nenhum partilhariam histórias, expectativas, saudades, quem sabe, segredos, durante quase um mês. Mas também males físicos e indisposições que a viagem marítima implacavelmente traria, fazendo daquele espaço comum um pequeno inferno de odores pouco recomendáveis.
A imagem do lado direito mostra o verso do bilhete, onde podemos ler as condições que a Sociedade de Navegação Luso-Panamense impunha a todos os passageiros. É curioso ler que a empresa não se responsabilizava praticamente por nada de mal que pudesse acontecer a bordo como podemos ler no artigo 9º. O início do artigo 6º era, também, bastante "reconfortante": "A Companhia não garante a partida ou a chegada exacta do navio a qualquer porto (...)".