sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A decisão

Como é que se diz a uma mulher, com quem escolhemos partilhar uma vida, em inícios da década de 50, num interior esquecido e abandonado, que se vai para o Brasil tentar a sorte? Como se encaram os filhos com esta notícia nos lábios? Que momento se escolhe para isto? Que espaço?

A decisão de emigrar foi a primeira de duas resoluções de coragem que haveriam de marcar a vida do avô Américo e de todos aqueles que com ele conviviam. Homem mentalmente forte e determinado, o avô Américo via os três filhos crescer e o espaço onde viviam tornar-se cada vez mais exíguo: com a família nuclear viviam ainda três cunhados, todos eles bastante mais novos. Por isso, foi tomando forma a ideia de comprar a casa contígua, que pertencia a uma das personalidades mais conhecidas da aldeia. E a oportunidade surgiu: alguém na aldeia mantinha negócios no Brasil, onde empregava mão de obra, fosse ela local fosse portuguesa. O avô Américo viu ali o momento. E decidiu.

Volto à comunicação da intenção. Terá sido à mesa, durante um jantar bem regado com vinho da terra? Terá sido num qualquer campo, tendo como testemunhas uma qualquer Cabana, Bonita ou Ramalha (nomes de vacas)? Terá sido, à noite, na cama, no aconchego dos cobertores grossíssimos que protegiam de invernos rigorosos? Que palavras? "Lucinda, o irmão do Borges diz que me arranja trabalho no Brasil... E paga bem... Uns dois ou três anitos e dá para comprar a casa..."

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